ADEUS E OBRIGADO ABELARDO “CHINÊS”: por Francisco Michielin
GeralO menino Abelardo criou-se perto da minha casa. Tínhamos poucos anos de diferença, mas ele era mais novinho. Por isso, suas chances de arrumar uma vaguinha nas “peladas” de rua sempre eram diminutas. Mas, ele nunca desistia e tentava a cada santo dia
O menino Abelardo criou-se perto da minha casa. Tínhamos poucos anos de diferença, mas ele era mais novinho. Por isso, suas chances de arrumar uma vaguinha nas “peladas” de rua sempre eram diminutas. Mas, ele nunca desistia e tentava a cada santo dia. Até que se firmou, mesmo porque também ganhou mais consistência física, igualando-se aos mais crescidinhos. Jogava direitinho, tinha habilidade e boa noção de jogo. Acabou sendo um jogador qualificado, especialmente no salonismo. Por sua fisionomia um tanto atípica, ou, típica em traços orientais, logo ganhou o carinhoso apelido de Chinês que ele carregou pelo resto de sua vida.
Por gostar de futebol e habitar uma “região” da cidade dominada em sua imensa maioria por torcedores do Juventude – ainda por cima morando próximo do Alfredo Jaconi – o Abelardo amou as cores alviverdes ainda antes dos seus cinco anos de idade. Apaixonou-se pelo Juventude de forma arrebatadora. Assim que pôde, tornou-se dirigente e participou ativamente de diversas diretorias. Teve grande destaque, em mais de uma ocasião, ao comandar o departamento de futebol, com marcante atuação no vestiário, falando a linguagem dos boleiros e por isso tirando muito deles.
Seu empenho e sua dedicação o conduziram à presidência do clube em 1990, cargo que exerceu exemplarmente e com muito orgulho, precisando se beliscar para se dar conta que havia alcançado o supremo desejo de sua existência em termos de futebol e, sobretudo, de Juventude. Muitos jogos eu assisti ao seu lado, compartilhando nossas comuns idéias sobre jogadores e táticas.
A última vez que falei com ele, já com sua grave enfermidade em plena progressão e absolutamente irreversível, deu para perceber que o Abelardo não queria enganar a si próprio. Sabia que era um jogo perdido. A força maligna do adversário era insuperável. Mesmo assim, ele se manteve brincalhão e folgazão, dentro do seu estilo de vida e do seu caráter diferenciado. Pouco a pouco, porém, ele foi se encaminhando para o seu final.
Um grande companheiro no melhor e mais límpido sentido da palavra. Uma grande e lastimável perda. Vai com Deus, Chinês! Aí no Céu poderás continuar te deliciando com o teu e nosso Juventude.