23/07/2024

Juventude lamenta o falecimento do sócio José Letti

Juventude lamenta o falecimento do sócio José Letti


Foi com profundo pesar que o Esporte Clube Juventude recebeu a notícia do falecimento do Sr. José Maximo Paim Letti, 89 anos.


Sócio remido há décadas, José Letti tem uma jornada de vida com boas histórias ligadas ao Juventude. No livro “Assim na Terra como no Céu”, o autor, dr. Francisco Michielin, descreve detalhadamente um episódio curioso e divertido, com participação direta de Letti:


“Após três temporadas da melhor qualidade cumpridas no Pelotas, o paulista Nezito está saudoso de Caxias. Aqui criou raízes, quer voltar de qualquer jeito. Nada, nenhuma proposta conseguirá suavizar sua nostalgia. Mas Nezito, orgulhoso, não é daqueles de se oferecer. Ele é craque, gosta de ser lembrado, quase venerado. Será que o Juventude não se lembrava que ele existia? Será que já o tinham esquecido? Claro que não. Quem, todavia, iria adivinhar que Nezito, às vésperas do certame de 1965, não quisesse, de repente, permanecer no Pelotas, onde era o capitão, ídolo e dono da bola?

Para chamar a atenção sobre si, aproveitando uma folga, visitando os familiares em Caxias, vai treinar no Flamengo, para "manter a forma". O Flamengo se atiça. Pede-o emprestado para um rápido giro pelos gramados catarinenses. Nezito extrapola. Enio Rodrigues o técnico recomenda sua imediata contratação. É amigo de Osvaldo Rolla, o Foguinho, de quem foi pupilo do grande capitão do Grêmio no ciclo do penta de 56 a 61. Foguinho está treinando o Pelotas. O presidente Albano Caberlon entusiasma-se com a perspectiva. Finalmente, o Flamengo um dos maiores vai dar o troco, fazendo a correnteza virar contra, possuindo jogadores esmeraldinos. Será uma resposta, um impacto, para amortizar a transação que envolveu a Negri. E a tantos outros: Danga, Dutra, Tico, Ary, Joel, Joir, Jurandir, Fredolino, Dutra, Leonardo, Alemão, Eloy, etc. etc.

Pastelão, que já orientara Nezito e que o fizera seu líder, o porta-voz em campo, não quer perder essa. Chama Mário Ramos a afirma que "quer o homem". Eloy recentemente fora vendido para o Grêmio. Já pensou uma meia-cancha com Hermes e Nezito? Todos tinham pensado, mas fazer como? Pastelão garantiu que "sobre Hermes e Nezito construirei minha equipe".

Persuadido, Mário Ramos outorga a José Letti e a José Miguel David que se dirijam, obscuramente, sem dar na vista, até a Princesa do Sul. Ao final da tarde do dia de Corpus Cristhi, deixam Caxias no "possante" Gordini de Letti. À noite, fazem uma parada técnica em Porto Alegre, onde jantam no Treviso, olhando de esgueira para todos os lados, no maior disfarce. Por volta da meia-noite, às escondidas, no abismo da noite azul, retomam a viagem. Depois de sete intermináveis horas de estrada, o Gordini vê, finalmente, o raiar do sol se anunciando em Pelotas. Os dois "sequestradores" não param de bocejar. Marcam, rápido, um encontro com Luis Carlos Ronhelt, presidente do clube auri-cerúleo, cheio de cordialidades.

Mas, senhores, o Flamengo também quer Nezito. É uma decisão desgastante. Ai, entra Nezito na conversa, como fator determinante e diz que deseja mesmo voltar para o Juventude. Só tinha feito um fogo de palha, para atiçar a vontade de Pastelão. Então, não há dúvida, fica devidamente acertado. Assinam-se as promissórias, vão-se embora e bênção.

No retorno, resolvem parar numa das bancas de frutas próximas ao rio Cai. Está na estação das bergamotas, com suas cascas incorporadas e luzidias. Quando começam a descascá-las, olham de soslaio para a curva e observam que um Sinca Chambord vem fuzilando. Ele freia bruscamente. Dentro está o presidente flamenguista, Albano Caberlon, que não serve para trouxa. Também vai comer suas bergamotas. Letti e José Miguel, como se fossem mágicos, num passe de premeditação, escondem Nezito no banco traseiro, agachado no "confortável espaço" do Gordini. Pedem que não dê nenhum pio, se possível que nem respire. Os paredros, afinal amigos, se cumprimentam, saboreiam juntos as bergamotas e depois cada um parte para o seu lado. Caberlon a mil, naturalmente para Pelotas.

Na mesma tarde, Nezito era a grande atração do treino do Juventude”.

 

Além das boas histórias ligadas ao Juventude, José Letti deixa como legado o amor dos filhos Eduardo, Rachel e Augusto ao seu Clube do coração. Amor, este, repassado aos netos de uma família genuinamente Juventudista.


O Esporte Clube Juventude reitera o sentimento de pesar e deseja força aos familiares e amigos neste momento de profunda dor.